O comprometimento dos profissionais de educação docentes e não docentes
com a organização de um trabalho pedagógico coletivo na escola é um desafio a
ser incorporado na observação, na vivência e na participação dos sujeitos,
no processo de encaminhamento das questões que permeiam o cotidiano escolar.
Gramsci (1989, p. 129) embasou a proposta da educação básica em dois
elementos educativos fundamentais: as primeiras noções de ciências
naturais e as noções de direitos e deveres dos cidadãos. As noções científicas
se constituem em instrumento de luta contra concepções mágicas de mundo e
de natureza, impregnadas de folclore, absorvidas pela criança no seu espaço de
convivência. As noções de direitos e deveres servem para introduzir o estudante
na vida estatal e na sociedade civil, transformando-se em uma ferramenta
cultural de luta contra as concepções individualistas e localistas.
Estes dois elementos são fundamentais na organização de um processo
pedagógico comprometido em formar cidadãos dirigentes, isto é, o homem que
trabalha e contribui para a modificação da natureza. A existência humana vai se
tornando especificamente humana, por meio de três dimensões (a prática
produtiva, a prática social e a prática simbolizadora) relacionadas entre si de
modo que o movimento e a ação de uma interagem sobre o movimento e a ação das
outras, repercutindo no processo de produção de conhecimentos, e ao mesmo tempo
influenciando no processo decisório da sociedade.
A prática produtiva pelo trabalho, os homens interferem
na natureza com vistas a prover os meios de
sua existência
material,
garantindo a produção de bens e a reprodução da
espécie, a
prática social ao produzir sua subsistência, os
homens estabelecem entre si relações, e a prática simboli-
zadora as relações produtivas e sociais são simbolizadas
em nível de representação e de apreciação valorativa, no
plano subjetivo visando à significação e à legitimação da
realidade social e econômica vivida pelos homens
(SEVERI NO,
2001, p.26).
Compreender a construção da existência humana, nos termos afirmados pelo
autor acima referenciado, significa compreender que estas três práticas estão
inerentes não só no discurso, mas principalmente nas práticas da organização
administrativa e pedagógica da escola, bem como na forma como os dirigentes se
relacionam e organizam as atividades escolares, tais como: o planejamento, a
matrícula, a organização das turmas, o conselho de classe, o conselho dos
professores, a aula propriamente dita, as horas cívicas, as reuniões
pedagógicas com professores, pais e alunos, etc.
Estas inter-relações impregnam a vivência em sala de aula, a relação
professor aluno e o processo de transmissão-apropriação dos conhecimentos das
leis naturais e das leis feitas pelos homens, bem como interagem na compreensão
e convencimento de até que ponto deve ser aceito, não por imposição externa,
mas por entender que elas são necessárias para a convivência social. Acima de
tudo, é necessário compreender que estas práticas interagem nas situações de
aprendizagem, na decisão de estudantes e professores assumir coletivamente a
modificação destas mesmas leis estabelecidas pelo poder constituído, as quais
refletem nos programas escolares.
As relações de poder e a organização do trabalho pedagógico. CIÊNCIA & OPINIÃO
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